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terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Amarrei o bode

Eu vi o salvador subir no palanque rodeado de seguranças, bajuladores e admiradores sinceros, este era um mito ou mais um silva?
Ele vendia soluções diversas e gritava palavras de ordens, balbuciava algumas demagogias, pensando mais tarde em ir para alguma orgia...
Em questão de segundos, de repente ele me viu de longe, logo eu! 
Eu! 
Mais um João ou um Zé da vida?
Amarrei o bode próximo a calçada, puxei a cadeira e pedi um drinque achei melhor pedir a garrafa...
Logo eu, mais um Joaquim da vida, que havia parado de beber e fumar!
Logo eu, que voltei a ter uma vida religiosa e quis rezar!
Eu, que saí do emprego e divorciei... 
Logo eu, que fui despejado e só tenho trocados e um bode para amarrar...
Quando ele olhava para a minha pessoa parecia gritar e a falar alguma coisa...
É você!!!
Não se esconda atrás desta garrafa, desamarre este bode e junte-se a nós?
E neguei assinalando com a cabeça,  pois eu já estava bêbado...
É você!!!
Seu vendido!
E hoje aparecestes aqui no meu comício?
Amarrando este bonde e bebendo mais um gole, fazendo pouco do meu luxuoso e farto palanque que está esbarrotado de ternos e gravatas de grife pagos por ti, seu trouxa!!! 
Logo tu?
Que não tens holofotes e que sá aplausos, espectadores ah, ah, ah!
Falava o debochado no olhar e eu que não sou telepata entendi tudo...
Tu és apenas tu e o teu bode, espectador de si...
Parei de rezar, voltei a beber e catei uma bituca pus-me a fumar e a comer dos restos que caiam do palanque servidos por mim, no final das contas o bode sou eu prestes a ser abatido novamente...

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